23.3.10

INOMINÁVEL

De todos os poemas,
se partir da sua obscura raíz,
este é o primeiro que deriva do fonema do teu nome.

Desisto de me passear altiva nesses meandros,
quero uma montanha inteira onde descansar e um abandono,
qualquer sentença que não me questione.

Eu quero a doença da tua pele,
o frémito da tua inquietude.

Vim recortar a tua nuvem,
despejá-la num inadequado espaço de formas,
isento de latitudes
(essas que inutilmente cingimos à alma).

Tenho pautas vazias,
fugiu-me a música para algum devaneio,
Vê-me, entertainer de mim mesma,
distraindo o tempo.
Quando voltar serei maior
-não sei se volto-
terei um destino exemplar para réguas como essas,
que dividem o mundo entre o certo e o errado.
(Ah! Se este poema cantasse!)

Tenho mil cavalos dentro
e o seu galopar devasta-me!
Como se constrói um faraó autêntico,
essa peça de história que cria dominância na paisagem do espírito?

Reflecte sobre estes achados que ainda te escrevem,
talvez sejam a única prova fidedigna de que um amor persiste.

Recupera o perímetro da minha aflição,
viajo para me entreter,
sou entediante e procuro enforcar a mão,
o dedo,
a partícula inonimada que se escreve e tem o tamanho do maior grito da galáxia.

A Física é outra inquietude,
porque deu-me para sentir, cientir (de cientista), prenominar catástrofe.

Aguardo enquanto os últimos cadáveres vão comprar sorrisos,
também eu tenho crueldade nas coxas,
não ensino a arte do vôo,
incapacito crepúsculos.

Sou um bolo desfeito, desmerecido de mesa.

É grande a desgraça e, no entanto,
tenho-te amor:
é uma coisa que se alastra!
Não tenho outra forma de to dizer,
dispo a metáfora e entrego-ta na última folha de um jornal sem data.

Este é um grito e não se ouve.

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