23.11.10

I'm in love with Bill T. Jones ( o amor é uma cratera deveras funda, embora partilhada)

"Estive à procura de quem eu era e do que quer dizer existir num mundo o da arte do qual sempre me senti alienado. Foi o mundo da arte que me fez, mas, dentro dele, nunca cheguei a perceber quem eu próprio era. Lembro-me de, em 'Last Supper at Uncle Tom's Cabin', que é de 1990, ter decidido ter a minha mãe no palco a rezar ao seu deus enquanto eu dançava às cadências da sua oração. Não estava a dançar a sua oração estava a dançar com a oração (é uma dança abstracta, no sentido pós-moderno). Fiz isto porque quis falar dos enquadramentos de intenções na arte. Se um artista diz que qualquer coisa é arte, para mim é arte. Pensei que se pegasse na minha mãe e nas suas orações e as pusesse em cena, elas se tornavam outra coisa. Quis acabar com as barreiras entre o que era entendido como cultura erudita e cultura popular. Era uma guerra que eu travava há anos mas para pessoas de horizontes limitados este tipo de atitude tinha sempre a ver com protesto social."
Bill T. Jones

21.11.10

Á

É um sol!
É o sol com olhos curiosos,
quando se alastra recupera em vez de perder.

Curou-se-me  uma doença
que me sufocava o dedo mindinho
e agora crescemos juntos,
temos mais mãos,
as tuas, as minhas, as nossas:
a amplitude é um fenómeno de amor,
mesmo que o Verão Azul seja uma metáfora de mau gosto quando se troca o continente
por uma rua sem patacas.

Afinal,
um sorriso também se compra por outro sorriso semelhante,
esse preço rasgado em notas deixadas ao acaso nas algibeiras.
Releio em voz alta o que me dita este acaso escrito em epiderme:
visto-te de lua cheia e levo-te para a rua,
para ensaiarmos novamente o teu desejo
OU
sempre que te escapas dos teus olhos
apuras o condimento essencial, eu comovo-me.

Se tiver saúde na alma,
este Inverno vou tentar praticar a beleza,
é bom que não me repreendas pelos maus hábitos dos meus caprichos,
não gosto quando me anoiteces o sonho.
Escorrega antes  para dentro do meu silêncio,
podemos trocar ideias acerca de determinados rituais
que somente as plantas conhecem.

A última mulher que eu conheci hoje,
chamava-se Feliz e só parecia triste
- não sei o que faça destas ironias-
mas vestia os lábios de palavras honrosas!
A verdade é que ela sabia o que era estar só e
essa, era nela a única coisa verdadeira.

Vamos trocar ideias acerca desta assunto?
Em que lugar classificas o teu mundo?
Competes com o teu diafragma ou cansa-te respirar fundo?
Amacias o amargo ou dedicas-te a praticar-te limão?

África ensinou-me a aprender tudo outra vez,
não me esgano, nem te atropelo,
sou um carrinho de linhas a coser linhas num caderno por escrever.
Mais tarde voltarei a cantar-te,
Toumani sabe mais de mim do que eu imaginava.

19.11.10

queria dizer-te:

ontem deu-me para morrer assim como quem nasce.
fui vendo lentamente  os rostos
e reconheço,
o amor move, ode tudo.

sou um produto SÓ-cial.
não te percas neste referencial que é o meu espanto a tentar ser algo..

amanhã -para que saibas- vou dedicar-me a apetrechar esta casa
( a única que reconheço como IDENTIDADE)
esse país é o meu sorriso moreno.
eu sou uma geometria errante a cantar-te sobre um estranho esquema.

tenho pena.
porque tudo, involuntariamente, se atrasa ou antecipa
e eu tenho uma lebre de março no quintal do coração
(atarrachar o relógio ao útero
e não mais biologia ou tempo)
no entanto, tu sabes muitas coisas
e o teu afecto é alto e bem parecido.
Admiro-te, sabias?...
decerto não, nós nunca dizemos o importante,
temos cordas ancestrais em vez de vocais,
e quando nos dá para o grito,
atrasa-se o coro.

estar só é clarividente
voltas a abrir o teu sorriso,
o único lugar onde sou capaz de depositar tesouros,
como a folha de Outono que apanhaste de propósito para mim...44

é tarde e eu estou de luz apagada a ver o cosmos,
treme-me a espinha e a alma,
creio que é um alerta fundamental
para te relembrar. 


2.11.10

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Retoma a minha frase,
poderei dançá-la mais tarde,
num país inventado pela tua sede e pelo meu frágil equilibrio
Segura na ponta da corda que mais te agradar,
aguarda.
Observa
 como percorro os versos e as versões,
Cocteau insite em pronunciar-se perante um público satírico.
Desta vez, será diferente:
na plateia recortarei o meu público preferido,
normalmente gente muito morta ou muito gasta
...muito sábia,
dos que metem medo e afagam objectos para escutar o coração ido
numa cançao muito antiga e um corpo muito quente.

Onde se guarda o calor de quem se ama?
As "temperaturas extremas" de Herberto, cintilam nas moradas de silêncio de Al berto,
eu retomo a sentença:
os dez primeiros livros são eternos.

Recortei o bar,
faltavam-lha janelas, ressacava luz.
Eu, que era uma planta crescida nos seus delírios,
decidira cuidar de quem me mostrara os primeiros dez livros
-OS PERMANENTES.

O quão estranha a palavra permanência,
esse fluxo,
esse burburinho algures entre correntes de ar.
Queria dizer-te que vais ficando
mas perdi as plumas,
as vegetações bizarras da paisagem e diminui-me tamanho lupa.
Não creio que te agrade
a minha nova pequenez.
Reconstituo
a Teoria Geral dos Inversos,
mas no oposto que concluo,
manténs-te ileso, soberano desse reino aquoso e precioso,
onde não se define cor
para além da absoluta:
a que cega.

Devo-te o sorriso,
a ternura,
uma carta ridícula de Boas Festas,
alguma desventura natural de quem insitentemente se ama
depois de gastos os lenços e
os lençóis.
Mas somente o relógio dirá das horas exactas
em que abraçar-te era escrever a cada segundo a Obra-Prima Universal que salvaria o mundo da demência.

Regresso cansada,
mas sei finalmente como te agrido:
bilateralmente.

Não guardes os poemas nos tijolos,
faz uma casa e abriga-te da penúria.
Um dia,
ainda viveremos no mesmo quarteirão,
e amar será espreitar à janela,
ver-te 
e sorrir.


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