14.12.07

nudez

nada do que trazia despido parecia conveniente para receber o deslumbramento de ti, por isso deu-me para inventar:

coloquei asas onde outrora reinavam circulares braços, saqueei a epiderme dum poema exótico e maltratado (para que te crescesse o entusiasmo), coloquei olhos no corpo, para rever de lés a lés os teus segredos e decorar o teu perfil... os poros fechei-os um a um, para que não me soprasse nenhum vento, nenhuma aflição, no interior do corpo.

exigias-me a nudez dos amantes, aquela parte de corpo, que se perde quando se dá. eu gostava de ti ao sol, quando transpiravas luz e queimavas o medo.

deu-te para praticar. com alguma habilidade, rabiscaste no interior do meu coração a palavra AMOR. disseste que nunca a tinhas escrito desta forma, que sempre falhara o pretexto para compor o último tema.

a mim, faltara-me a elocução para levar a preceito a descoberta. por isso dormi sem a tua visita, tive sonhos, tremi.

sem temor, como quem sabe segura a palavra escrita, deixaste-me uma pequena morte no sangue, que é como quem diz, nos olhos, nos ouvidos, na boca.

talvez regresses com tinta durável, promessas de permanência. eu acreditarei
.

sobre ausências....

teria dito que o fruto era doce, que as mãos estavam cheias e que nada faltava na paisagem.

teria dito também que tanta satisfação aniquilaria de vez os dedos e com eles os pianos, as melodias por inventar.

teria dito que mesmo assim, era bom comer cerejas frescas, nuns lençóis muito usados (e isso nem sequer pareceria feio...) e deixar a noite suavizar o corpo.