30.5.11

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Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio de Andrade - Os Sulcos da Sede

modus navegável


És o meu estudante de poemas preferido.
 Essa danação há-de viciar-te a melancolia.
Peças mais que fundamentais para seres duplos inteiros de coisas máximas e minúsculas – por outras palavras, TUDO . o excesso do tudo.

“Que dizer de ti virado ao contrário, sem vertigens? Como atravessas este céu sem matéria? Vamos ao jardim, as árvores nunca dormem, esqueci-me de te sossegar e os poemas são pesados de sentidos..”
“Talvez vislumbres quem fui, talvez saibas que todos os nossos rostos estão presentes na memória… para que os sentidos se revelem…”
In Ant. Ramos Rosa . Bichos Instantâneos


Um ferro-velho de emoções como a última despedida.
Nuno Júdice

Seria fácil, se abrisses estas páginas abstractas, que se geram dentro da minha cabeça.

 

15.5.11

last beat of my heart . siouxie and the banshees

árido é o terreno desta manhã,
convocado pela longa espera.

afinal. são anos a aguardar a luz do sol
no pior lado da casa
(daqui avistam-se barcos mortos,
os dedos estão sempre afogados num copo,
os olhos são baços)

no registo deixei uma passagem invisível!
talvez sejam de luz os olhos alheios,
leiam as entrelinhas do meu corpo a dançar-se
para distrair a sua própria ausência..

de qualquer forma, hoje a paisagem adoeceu de tempo,
como eu de congeminar escassas possibilidades.

caminho com a aridez da minha boca calada
e isso ocupa-me inteira.