21.9.10

Inverno quente de 2010

vinha falar-te deste caderno que escrevi no Inverno quente de 2010.
lugar onde, por irreverente costume, colei as imagens dos teus olhos carregados de coisas pesadas,
substâncias húmidas de mar,
lentos veículos para sonhar.

nessas páginas, as travessias têm desejo exposto,
são fúria e queimam,
não lhes nego a persistência!
repeti o caminho todas as manhãs e agora, que o finalizo,
dou por mim de costas voltadas ao sentido de partir,
talvez fique se te agradarem estas madrugadas,
que inventei com tabuadas de encantar.

Os teus pés invertidos apontam a galáxia,
eu sorrio ao ver-te inapto para correr um fio onírico.
Decides: "Volto a casa."
...e aconchegas as mãos num silêncio milenar.

Ver-te triste anoitece-me,
mas o caderno escreveu a parábola,
uma predestinação divina feita sem coragem,
(mas o amor também é esse medo).

Com a corda enlaçada na veia sideral, recorda:
faz um baloiço para avistares o sol de perto,
a beleza confina-se por momentos a desejar o inalcançável.