2.12.10

NE

pouso longamente os dedos nas teclas.
se pudesse tocaria neste piano de fundo
esta lembrança em oitava menor,
como um vestido antigo que ficou sempre à minha espera.

sei que amarias a calmaria do meu olhar debruçado no teu,
mas enquanto chegas e partes,
o meu coração desvanece-se em fumos
e eu "angelizo" os meus frémitos.

preciso que saibas como é perigoso o meu riso,
o meu quintal,
o meu animal de estimação predilecto
(para que saibas, tem uma capa preta em vez de pêlo,
tem cortes nas patas de papel, mas não usa coleira)
precio dizer-te as coisas que sei melhor e por isso,
não sei dizer.

Palavreado em forma de gente,
sou eu a rir do tu,
conjuga-te comigo no pretérito imperfeito
e ama esse trágico destino,
que é ter cordas em vez de batuque,
e não me fiar nos doces da avó.

Tenho um carrasco sentado na minha língua,
quando lhe falo, ele grita-me e cala-me.
deixo que ele actue por mim
(essa voz é minha, seu falhado!)
até que de exaustão cai para dentro da caixa da bailarina velha
e enche a boca de bijuteria
(o brilho efémero ofusca)

este é o relato obejctivo do meu delírio feito vivo.
quando estiveres a rir,
anima-te,
anhinha-te
cai para o lado de dentro daqui...


do poema.