18.5.12

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Uma vez disse-te,
- Tenho um deserto a crescer-me por dentro. -
Ligaste o rádio por cima da minha voz, em tom de protesto!
O "Harvest Moon" rangia nas madeiras do chão,
fazendo do meu estado de alma, soalho conveniente para se deixar tocar.

Precisava que me desses paisagens que aceleram frémitos
e impulsionam poemas nas mãos,
coisas que os intelectuais compilariam em Tratado
                                                                  -perdendo longas horas a exercitá-lo no interior da sua mente -
tardiamente assinado pelos únicos reais intervenientes.

As pessoas são coisas sós e difíceis de arrumar,
embora eu preferisse facilitar o processo numa tabela quântica
que resumisse em poucos traços a hora exacta da minha morte
(mas as tabelas provocam-me abundante angústia).

Não te compadeças por isto
- isto é pouco!-
lá fora morre gente de frio e de fome,
a monotonia é matéria de alguma disfunção,
como essa  de ver pássaros onde só existem pedras
e de padecer de amor por pedras que sonham erosão.

A escolha devia ser múltipla
ou a ânsia devia ser caustica (até se devorar),
de todo o modo fica-me o declínio para a solidão.
Hoje bebo ondas de mar ao entardecer,
talvez te encontre parado,
paredão,
a renascer.