23.1.10

A KIND OF

Há lugares para onde é escusado ir morrer,
gasta-se o colo em gatafunhos que projectam Leonardos,
mas o milagre é um grão num celeiro devastado.
Falo-te desta casca de pinheiro que se colou ao meu dorso,
engavetou-se num natal sem deus nem menino,
irreligioso e livre,
partido em frágeis catedrais .

Dessa terra ocre, não é de estranhar o azul ciano:
é com as cores primárias que se gera a derivação cromática,
deixa-me por isso pequena, início por maturar,
raíz sem tronco, mutável e serena.
(Com quanta física se estuda uma alma?
Escreve-se o relatório ou faz-se um poema?
Reduz-se a gordura das coxas e das ancas ou modela-se
-finalmente-
as folhas de uma árvore e transforma-se ramo?)
Na eventualidade de Maria ou eu,
não conseguirmos escapar à dor dos sapatos minúsculos,
escreve um requerimento ao céu,
requisitando entidades divinas
para desgastar as cefaleias.
Tenho dúvidas na prova de existir.
É BOM QUE NESTA CARTA FIQUE TUDO QUANTO ARDE.
Era um livro.
Eu lia e repetia, num ponto certo,
desfiando o dedal, desnudando pele,
mas era carne o que havia depois de aguçadas as fomes:
enganei-me,
julgava ser matéria mais alta, mais elevada,
afinal tenho corpo e sede,
tenho medo.

São sete da tarde e eu falto ao compromisso,
as crianças madrugam,
são rápidas - A KIND OF LULLABY-
bye bye, silver girl,
let's fuck with the rising sun.
As rimas são patetas.
Tornaste as rimas patetas.
Tu és pateta.
(é só um desabafo)
O poema acaba,
o pastor não tem ovelhas,
o queijo furtou o leite ao vinho,
a Primavera coalhou por antecipação.
A última linha é absurda e exige corda.

ENGOLIR IMAGENS E ATIRÁ-LAS AOS OLHOS. PARA QUE VEJAM. OS ELEMENTOS DO POEMA. ODE ÀS 21 GRAMAS DE ALMA LHASA