31.1.09

Céu aberto

Preparei-te esta cadeira que tem paisagens de mar à solta.
(sentados, conversaremos com as mãos,
numerando imagens velozes,
cultivando luzes no campo aberto da nudez)
Quando chegares,
escutando a velocidade dos teus passos,
escreverei no silêncio estas metáforas que te nomeiam entre os seres, como o AR,
como a melodia que engravida os dias de sol.

Vestirei o casaco vermelho manchado de coração,
pensarei no que estarás a pensar,
depois não pensarei
e atenta, escutarei o teu movimento de asas,
atravessando as ruas.

Trarás o teu corpo,
onde inscreves e corriges diariamente as estruturas do planeta,
lembrando uma criatura que o meu corpo, por sua vez,
reconheceu milen-AR.

E será um dia completo.

Fui ver as árvores.

tenho estas palavras,
onde cabe exactamente o teu coração.

29.1.09

"Os meus dedos não se cansam de nomear-te" al berto

Sob criação lunar, a casa manifesta-se ao mundo

o discurso projectado pela paixão. herberto hélder .
entrar no coração como um braço vivo
OS MUSEUS IMAGINÁRIOS DE MALRAUX

o continente submerso. o navio de todos os amantes por onde rola a carruagem onde viajamos,
pintada de liberdade e poesia contigo a dormir sobre o meu peito . antónio maria lisboa
tu conhecerás o temor e transformarás a terra. maria gabrriela llansol

trazer aquilo que é anterior ao esquecimento . antónio ramos rosa

um reino tão fascinante que não tinha rei . gonçalo m. tavares


.


"Com a via láctea à volta do pescoço e os dois hemisférios nos olhos" . Blaise Cendrars


Minimal

Repara como esta estação empalideceu durante a noite.

26.1.09

"Chamo-te. Um murmúrio de luz, por instantes, coincide na ilusão de uma resposta" . Nuno Júdice

é tarde e os bolsos estão vazios.
Antes, quando observava o fundo dos bolsos avistava sempre ilhas ou sorrisos, mas hoje, os bolsos adormecem antes das minhas visões e a casa é um lugar que não existe.

disperso pinceladas num céu pela primeira vez antigo de escamas e nu de peixes.
queria segredar às visões do mundo que tenho tempo para amar cada um dos seus pormenores, ondas e barulhos, cinzentos e azuis.
queria dizer que confundo a epiderme com a textura das nuvens e que nunca foi difícil voar, que me está na vocação ser pássaro ou avião.
(NÃO DIGO!)

as ruas não esperam, traçam segredos de um lado ao outro do coração, e o movimento persiste, agitando os rostos à passagem do tempo. Depois de muito agitados, os rostos envelhecem, são comidos pelas imagens do próprio mundo. o amor cansa-se de escavar as suas próprias poções.

é noite, dorme agora.

17.1.09

Fiore de la Città


o mar pode ser muito longo ou não, dependendo do lado que o vês.


Hoje, por exemplo, estou dentro do mar, mas a sua linha horizontal acaba na minha mão direita, a última que tocou o teu rosto antes de partir.

Fiz a mala da viagem e trouxe dentro dos olhos dez retratos teus. Tenho-te olhado há muito tempo e ainda hoje, que o chão está quente de esperas, o fascínio mantém-se latente. Assim pulsa a terra: à velocidade dos teus sorrisos.


(Quando sair para a rua, deixarei um recado

nesta imaginária porta que separa os nossos quartos.

Será um recado longo, mas só o poderás ler, parado.

No silêncio.)

6.1.09

Devagarinho, como a chuva...


“a esta hora dorme dentro da cama a mulher que faria amor
se não estivesse sozinha.
Lento o homem despe-se, nu como a mulher distante,
e desce para o mar.”
césar pavese


Criavas mundos.
Era o teu ofício.

No dia 7333, de um ano impossível, numa varanda de estrelas sumidas eu iniciara-me no amor.

Chegaras.
No saco guardavas corações. Eu amava-os.
Dizias-me que todo o acto criador começa nas mãos, é dentro delas que se pensa.


um novo universo nascia, redentor de todas as tentativas de beleza.

E da luz fez-se a manhã
E da manhã bebeu-se o sumo
E do sumo nasceram muitos filhos, dando lugar ao corpo da imaginação.


DIGO-TE DEPOIS PARA QUE SAIBAS DE MIM:


NÃO SUPORTO COPOS DEMASIADO CHEIOS,


SALAS MUITO OCUPADAS,


VOZES AGUDAS E CORPOS QUE NÃO SAIBAM BAILAR.



ELA TENTAVA ORQUESTRAR O UNI-VERSO.

Agora que partiste
Agora que te partiste,
Encontrar-te é sempre inventar-te noutros.

VOU ESCREVER-TE ESTA CARTA LENTAMENTE.


Mário Henrique Leiria


Eu queria de ti as asas e a formosura.

A sede e a penumbra.



Nunca te disse (não houve tempo, como diria o Almada, ele que diz que só sabe do tempo quem não tem coração), mas nunca mais respirei da mesma forma. Interrompeste o livre curso da minha respiração e ritmos cardíacos. Cantar era agora uma condenação. Estava vulnerável à tempestade emocional, porque tu eras um menino banido das linhas de qualquer mão.



NÃO ME DEIXES MORRER! NÃO ME DEIXES MORRER!



DUAS SEREIAS ANDAM À CAÇA DE UM ANJO MUDO al berto.
Era a inscrição que ocupava o espaço areal/sideral.


Eu sabia que era de ti que falavam, por isso escondi-te num lugar seguro e nunca mais te encontrei.



(Dizias-me:
- Uma alma como a tua já não se encontra nestas terras.)


Digo-te:
Uma lua cheia é uma forma viva e perturbadora.


Escrever-te é ainda um acto de amor.

“Disseram-me um dia que as palavras existem para enganar os sentimentos.
Pode ser isso.
Pode ter sido isso a essência desta caminhada”


in Carne Torpe.


"E não terás mais do que seis minutos para me olhar.


É esse o tempo.


Porque cantar é pilhar uma parte pura do coração por deixá-lo todo à escuta.


As nossas vitimas são a nossa melhor parte."


Vasco Gato

Muitos anos depois de eu nascer, a tua face a atravessar galáxias.
(escreveu alguém, um dia, num caderno de viagem)


Vim devagarinho, com a chuva.