29.7.07

um piano para três

Era em comoção que observava o seu movimento circular, metamorfoseada em bola-espelho, na cambeante luz do sol.

Inundava-me um mar muito antigo, lendário, narrado há muito tempo por belos seres marinhos e eu meditava silenciosamente um poema que nunca mais me lembrarei.


Só depois de três lágrimas muito quentes, voltava a sorrir e ela sorria comigo e eramos uma - UNA- extremamente iguais. A oficina desmantelada, quebrava-nos a medula e era triste observar os corpos abandonados, transbordando amor, delicados-deliciados pelo piano inventado a três.


Ele era o outro habitante, quedado na plateia, assemelhava-se ao que de mais belo poderei recordar. Para ele tomei de empréstimo al berto, Nému ,e carinhosamente abracei-lhe o coração.

Um no outro, era na transparência , que inventávamos o movimento, respirando o ar, atravessando os corpos alheios (cont. ....ou não)

27.7.07

I

hoje passeei no dorso do teu delírio pela última vez.

apagaste-me a vocação de amante (i-remediavelmente).

(apesar disso, «algo em mim/caminha/ ao teu encontro» , como disse o alberto...pimenta)

19. Hoje gostava tanto de ter dito coisas que não disse


26.7.07

22.

de

20. "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma"

tudo passa, baby... (composição poética sobre a multiplicação das passagens, qual milagre bíblico imaginado. Trata-se de Real-Idade)


- sete caminhos e um barco de vento.
- um campo aberto onde começa o escuro dos sentidos;
- as minhas próprias mãos que pouco pensam;
- amores perfeitos na gola de um casaco;
- a imprevista meteorologia das paixões;
- uma mística ilha de centauros;
- uma língua no sonho da saliva.

"TUDO ISTO PASSA, BABY. TUDO ISTO PASSA..." a. pimenta

- dez comboios em partida simultânea;
- uma caleidoscópio de pálpebras;
- uma praça e o amor em estado de sítio;
- um imenso salão de baile;
- corpos embriagados a falar de amor;
- uma alegria suspensa na solidão;
- o mundo em brutal compressão;

"TUDO ISTO PASSA, BABY. TUDO ISTO PASSA..." a. pimenta

- uma grande nuvem de vermes-almas
- filmes de artista
- uma carrinha de três rodas
- um japonês paixonado pela sua namorada virtual;
- o rigoroso inverno de 1927- 1928
- uma mulher sem sombra

"TUDO ISTO PASSA, BABY. TUDO ISTO PASSA..." a. pimenta

"Isto passa. tudo isto passa. tudo isto passa pelos teus olhos. ou: os teus olhos passam.os teus olhos passam por tudo isto, baby" A. Pimenta


Ausente como um tentador sopro


15.7.07

"Como um súbito asfalto que nos subisse ao coração"... frase encontrada, em pleno caminho, alma acesa às dezasseis horas do dia ausente.

yves klein . revolução azul


"que os lagos gelam a partir das margens / e o homem a partir do coração" . Luís Miguel Nava



"Vulcão é a lição de uma errância pelo deserto."


Dezasseis horas de dia incerto. O corpo circula impedindo a circulação do tráfego interno. De poema suspenso no cérebro, procuro o sono (ele escapa-se, escapa-me, ESCARPA-SE sob um planalto feito à medida egotista do pensamento). A hora de visitas prossegue, o espanto é uma benesse. Eu ainda estou por aqui, mãos cheia de violetas e "amarelos malmequeres".


Rematando a viagem em Nava: "E o que acontece em cada uma das suas páginas-jornadas até ao rompimento da luz só pode ser o amor em que "havemos de arder juntos" .



14.7.07

o amor não tem tempo, e dura no que amaste (antónio franco alexandre) .ode às paixões e mágoas instaladas na memória

E este é um poema de amor encomendado de véspera
embrulho-me nele
acordo com a tua boca húmida nos cabelos
não direi que te amo.
António Franco Alexandre

trajecto, elevação, metáfora, metamorfose, alusão esquivo, autêntico, intenso, rude, escavação, amor, abandono, colagem...

55 55 55 55 55 55 55 55

Chagall

Durante horas e dias, ele passeia vagarosamente, dentro de si. À sua velocidade, séculos depois, ela chamaria AMOR.

Ele apreciava a lentidão do pensamento veloz. Saboreá-la, pressentir-lhe os segredos, e depois quedar-se novamente, sentado numa grande cadeira transparente, que ocultava o seu primeiro esqueleto. Ela conhecia-lhe a segunda e a terceira pele, os mil esqueletos, o calor dos seus olhos.


Ele observava o mundo através duma grande janela. Do outro lado do vidro, passeando sob a planicie, a voz dela contava-lhe o que ambos os corações viam:


"Casas contornadas de presenças, gatos e cor. Os gatos brilham muito no escuro, apesar de ser dia. Dentro da rua, as pessoas circulam. Uma criança leva um balão e sorri. Uma mulher chora com muitas lágrimas, mas ninguém se comove. O trânsito aflito segue e segue e segue. Um homem abraça uma mulher, depois segura-lhe a mão. Vai."


Ele comove-se. Depois senta-se novamente na sua grande cadeira.Ela convida-o a passear no seu astro pessoal. Ele vai, sucessivamente, multiplicando o sol. 55 vezes, diriam mais tarde, sorrindo, um ao lado do outro, um dentro do outro, aquáticos e plenos, como o "dia primeiro", o princípio de cada um.








13.7.07

Porque do coração cuida-se e gasta-se... incessantemente.



"deverias não a conhecer e tê-la encontrado em toda a parte ao mesmo tempo, num hotel, numa rua, num comboio, num bar, num livro, num filme, dentro de ti, em ti, ao acaso do teu sexo erguido na noite que procura um lugar onde se meter, onde se libertar do choro que o enche."

Marguerite Duras . Textos Secretos . A doença da morte

12.7.07

"Acordamos, já sei, transparentes e sábios, do outro lado da criação do mundo" . antónio franco alexandre



Estava em Caminha.


É uma terra densa, bela, difícil de respirar.

Caminhava em Caminha (sem caminha nem descanso) e encontrei um lugar de livros, que é a casa onde os livros escolhem habitar, vulgo biblioteca.


Foi em caminha que encontrei al berto e devorei antónio franco alexandre. um e o outro, lado a lado, próximos, colados, escrevendo sobre moradas variadas, na pelee nos oceanos... em silêncio.

Ali, os dois, quietos, comoviam. Eu chorei com todo o silêncio que o sagrado exige (e pensei gritando, com a atmosfera sinistra das minhas células, É ESTE O SILÊNCIO, depois calando-me, vendo os planaltos e a agressividade da alma elevada a poema).

ligeiramente suspenso, pensei:

nunca mais poderei esquecê-lo....

antónio franco alexandre

24. Escrevo a tua morada, mas sei que me egnaongano

"

6.7.07

25.

Era uma casa, como direi..... ABSOLUTA.

So in a manner of speaking... Tuxedomoon em repeat na rádio mental


In a Manner of speaking I just want to say That I could never forget the way You told me everything By saying nothing

In a manner of speaking I don't understand How love in silence becomes reprimand

But the way that i feel about you Is beyond words

O give me the words Give me the words That tell me nothing

O give me the words Give me the words That tell me everything

In a manner of speaking Semantics won't do In this life that we live we live we only make do

And the way that we feel Might have to be sacrified

So in a manner of speaking I just want to say That just like you I should find a way To tell you everything By saying nothing.

O give me the words Give me the words That tell me nothing O give me the words Give me the words Give me the words

5.7.07

Eloquente...

Hoje era um bom dia para não escrever... para não ter escrito....

Sobre as coisas puras... nada a dizer, agora que se desvanecem

No decote do oceano, bordei três pedras de sal... efémeras e graciosas pedras como o peito de um amante voluptuoso.
sempre te faltou a eficácia. apesar de forte e autêntico. não sei como explicar-te esta contradição, que afinal parece nada dizer. devo ter falhado os preliminares...
quanto aos preliminares, mais tarde falaremos, porque agora é tarde e o poder das coisas puras desvanece-se...

...


por vezes o texto morre. a palavra morre.

Inacabado

Sentei-me ao lado do teu sorriso, no lugar onde prometeras repetir o amor. Eu, que sempre usara Vinicius na cabeça e nas ondas do cabelo, penteei-me vagarosamente antes de sair da casca do lar, onde miava um gato branco e azul. Procurava-me bela,mirando o corpo ao espelho.
Troquei os primeiros caracóis de cabelo, pelos últimos, calcei ... (cont.)

"na casa de julho e agosto"- viagem extra sensível de Gabriela Llansol


"Sempre me senti paisagem"


"Quanto mais a criança se mexe, impetuosa de movimento interior, sob o choque matinal da exterioridade infinita, mais o seu passo é certeiro e inadequado o seu pensamento. É o momento perigoso de saber. VAMOS CORRER, diz ela. Era tudo o que eu queria ouvir. Eu, paisagem, e ela, criança. e lançamo-nos, lado a lado, numa correria através dos raios luminosos que abrilhantam essa manhã tão dada. Opera-se em nós uma reacçã química, rápida e violenta, acompanhada de grande elevação das imagens. Àquela altura só pode vir do futuro dos tempos. A atmosfera entra-nos pelos poros."


"De livre vontade abandonei a casa com Coração de Urso com meu filho ao colo, indo pelos campos; a casa abria sobre uma enorme cosmogonia que não poderei deixar de relembrar."


"Há infinitos no ínfimo de cada escala. Há um dom poético poderosíssimo à espera em cada centelha de consciência."

4.7.07

21.

hoje, antes de adormeceres, soprei-te nas pestanas.

26. E porque é tem toda a beleza que os dias quentes e frios

Canto de Ossanha . Vinicius de Moraes

O homem que diz "dou" não dá

Porque quem dá mesmo não diz

O homem que diz "vou" não vai

Porque quando foi já não quis

O homem que diz "sou" não é

Porque quem é mesmo é "não sou"

O homem que diz "tô" não tá

Porque ninguém tá quando quer

Coitado do homem que cai

No canto de Ossanha, traidor

Coitado do homem que vai

Atrás de mandinga de amor

Vai, vai, vai, vai, não vou

Vai, vai, vai, vai, não vou

Vai, vai, vai, vai, não vou

Vai, vai, vai, vai, não vou

Que eu não sou ninguém de ir

Em conversa de esquecer

A tristeza de um amor que passou

Não, eu só vou se for pra ver

Uma estrela aparecer

Na manhã de um novo amor

Amigo sinhô, saravá

Xangô me mandou lhe dizer

Se é canto de Ossanha, não vá

Que muito vai se arrepender
Pergunte pro seu Orixá

O amor só é bom se doer

Pergunte pro seu Orixá

O amor só é bom se doer

Pergunte pro seu Orixá

O amor só é bom se doer

Pergunte pro seu Orixá

O amor só é bom se doer

Vai, vai, vai, vai, amar

Vai, vai, vai, sofrerVai, vai, vai, vai, chorar

Vai, vai, vai, dizer

Que eu não sou ninguém de ir

Em conversa de esquecer

A tristeza de um amor que passou

Não, eu só vou se for pra ver

Uma estrela aparecer

Na manhã de um novo amor

a verdade é que está demasiado calor para se ter frio..


Trata-se de um coração que voou...


2.7.07

Multiplicando a espera


Relógio perdido no fundo do pulso, entre artéria e artéria. Ele- o relógio- permance, palpitante... espera-te. O meu relógio espera-te e os dias de espera já passaram todos e voltam a repetir-se.


O meu relógio, afinal é de osso, tem esqueleto. Quando ontem, deitado na cama, embrulhado num lençol amendoado, perguntaste, porque esperava, eu não te disse nada. Não se espera um morto, segredaste, pousando agora o corpo pequeno e pálido na tua alcofa de menino.

Só quando sumiste do campo esverdeado dos meus olhos (num verde agora mesmo inventado), respondi-te à letra, na letra certa que se poderia cantar, se eu tivesse a voz ou a guitarra:

Estou ainda à procura de violetas num prado dourado. Foi o Herberto que as evocou - as VIOLETAS- e eu nunca duvidei que elas- as Violetas- existissem. À espera.