22.7.10

My name, Lhasa sob escuta (uma espécie de eternidade) E Manuel António Pina sob leitura (uma espécie de efemeridade)


Why don’t you answer Why don’t you come save me Show me how to use All these things That you gave me Turn me inside out So my bones can save me Turn me inside out. LHASA My name

.."a ausencia instalada no coração da nossa realidade, isto que nos permite separar vida e morte, que nos duplica imaginariamente, só a pura exterioridade o alcança.
A nossa condição -até na relação com os outros, mesmo os mais amados- é sermos gémeos divididos."
in Jornal de Letras, num artigo sobre Manuel António Pina

Sobre Manuel António Pina
Humuildemente apresenta-se como jornalista. Consciente da transitoriedade e efemeridade dos "hojes" (essa palavra sem plural conhecido), relembra: "Um jornal, como diziam os velhos tipógrafos, serve no dia seguinte para embrulhar peixe."

11.7.10

PELE (registo em contínuo, atravessando as águas)

São novamente ossos estendidos no paredão:
não são de gente,
nem dos sonhos invocados,
ou das tragédias geradas pelas suas cúmplices catástrofes.

O manual de capa preta
-também ele estendido no areal-
guarda os teus poemas,
tu sabes que és um ilusionista inato,
por isso quando te prendes,
manténs soltas as outras pontas.

As arquitecturas de cada alma são obras-primas! -
soletras, enquanto esculpes o teu último rosto,
pareces mais novo, mais alto, mais outro.
Vou fotografar o teu medo primeiro,
para que saibas da memória,
essa ausencia em sustenido que afaga o abismo.

Respiro muitas vezes e, se me canso prossigo,
-é habitual! -
porém, nem sempre faço o esforço
de reparar a intensidade dos ventos:
inalo pradarias e emociono-me!
Faltam-me mais dedos do que livrarias,
a minha persistência consiste em manter cheio o nível das águas de Herberto,
a minha planta preferida..

Se eu tivesse o poeta de ocasião
que te enrosca o abandono em trágica beleza,
felicitaria este destino que te desenha a boca
e te desfaz o sorriso em pranto.
Mas o poeta, mesmo que me habite dentro,
é-me desconhecido,
toma-me de voodoos as pernas
e dá-se ao azar de se tornar metáfora:
o livro dos poemas guarda o último anjo,
esse ser que talvez não nasça.

Um pigmento de lua há-de enfeitar o débil azul,
veremos que depois desta exaustiva caminhada,
a luz da manhã será primórdio de um capítulo ilustrado,
onde seremos livres...

(Arranha-me em eterno a labuta organizada em semelhança.
Ainda são os pássaros que me comovem,
principalmente aqueles que se fazem grandes nas mãos.
Chagall é uma coincidência divina,
nas intermitências que transportam o precioso.
Revelo a fotografia,
hei-de fazer um altar a tudo aquilo que sem ser meu, me comove e transfigura.
Sou um ser espalhado em milhões de seres.)

5.7.10

Lisa Gerrard Ou o salto para o enorme vazio das almas (esse vazio deslumbrante)

Once there was a gardener,

Who's horse became a dream.
It then became a nightmare,
And nothing was redeemed,

His heart was over shadowed,
It yielded to the pain,
Of lost and broken memories,
Of love he'd spent in vain.

They're within the labyrinth,
He bathed in vapors green,
He poured his very essence,
Into pools that can't be seen,

He fell into the press-apes,
By choice he entered through,
Dark waters yet unspoken of.
A loss,
He could not bear to be true.
His fate lay among the flowers
Of the desert morning stars,
Uncharted lands and faithful
hands beckon from afar,

In time, his eyes will open,
And he will begin to see,
The beauty of his innocence,
Free from memory.

His horse that was a nightmare,
will be a promise seen,
No longer there a prisoner,
he'll realize his dream,
And souls will join and be
reborn in the Eden of his heart,
He'll bring forth a light of unity,
from which he will not part.

Loving eyes will no longer pour acid
on his soul, for forged within integrity
His horse becomes a foal.
There begins his reckoning
a freedom from the past,
The pain in vain will dissipate
and peace will come to pass.

Lisa Gerrard