31.8.08

cinco sons

ele parecia feito de cristal e avançava discreto e grande, ocupando a noite e o pensamento.
ela olhava-o e, se pudesse, cantava-lha agora ao ouvido da pele e da tempestade, o amor...

23.8.08

A vida na Fanfarra (relato de duas retalhadas... causticadas)

Dias de festa. Dias de luz. A noite transformada em tuba e todos os pés fora do chão. Os violinos tocaram, mas esses nem sequer estavam lá. Apenas corpo e dança e noite por-para caminhar (e quem disse que o dia tem 24 horas, enganou-se).
Eram oito anjos em formato musical. Nós éramos duas e tudo aquilo que sonhávamos ser. Multiplicadas na pauta do coração, seguiamos a luz, deslumbradas!

Porque o movimento era belo e simples.
Porque aquele som -sim, AQUELE SOM!- tem a cadencia da verdade, é belo, arrebatador...


(Nota da retalhada-mor: Ai, tantos anjos juntos!)

20.8.08

beber bagaço

assim, sem nada que me prenda à terra, é mais fácil voar:

conheci poetas, reencontrei almas penadas d rock, jantei em Cabo Verde, bebi licor de mel, mudei de casa, mudei de penteado, mudei de paixões, estive embalada na voz doce dos amigos, falei com desconhecidos como se os conhecesse, chorei muito, ri muito, dormi pouco, bebi muito e quase morri afogada em cerveja,...

(esta lista podia verdadeiramente continuar. não seria difícil. também não tem qualquer tipo de interesse, a não ser a minha vontade de falar destas inúteis e preciosas coisas. fico-me por aqui).

14.8.08

eu sei que incendiaste a tua mão acidentalmente, ao tentar recortar-lhe formatos de asa.
Para que me devolvas o ar, meu amor.
Para que devolvas o espaço que me falta dentro.
Para que recupere a capacidade de incendiar o chão e dormir,
ao lado dele,
sobre ele,
acima dele,
dentro dele.

Sem queimar a pele.

8.8.08

unhas

eram apenas as minhas unhas sujas da tua pele.

ao longe um cântaro de água, que poderia usar para beber ou lavar.

parti o malfadado cântaro com os dentes de um anjo velho e inútil que tinha bocados da minha cara espalhados no rosto (bizarra criatura passeando no dorso do meu cansaço).
persegui a sujidade da noite, com uma esperança de coisa nenhuma, (coisa rara essa de já não me comprometer com nada)


respirei. estavas finalmente morto.
agora sim, posso começar a escrever-te.

2.8.08

...


vim para te dizer que roubei milhares de pássaros à noite.

...


e que eram para ti.