Inaugural suspiro, o primeiro!
No entanto,
um flagelo no lugar da pedra mãe.
Vamos juntos.
Embora mais juntos.
Embora mais separados.
Buscando os inéditos na tua voz,
Reflectindo –EU- TU-incisivamente sobre o teu espaço de
acção
(passamos tanto tempo a pensar em ti)
Dizer-te então que não é a pele suave da minha perna
-nunca foi-
mas a pele suave da eternidade,
Ânsia das bênçãos,
Ansiedade de estar
ou o mero eco dos abençoados na primeira noite de rock do
mundo.
Creio na criação.
Ato de criar.
Criar o espaço próprio de um amor único.
Porém,
a chuva quente inunda os ossos até ao tutano, diariamente,
e com ela, o amor inunda-se.
E –sabemos- só a criação cria amor e o amor cria a criação.
Há uma espécie de dor ambígua neste vislumbre nocturno,
um corvo vesgo e belo,
um menino trôpego e valente,
uma mão dilacerada e esvoaçante.
A quimera alimenta-se dos despojos
Como se de laranjas de ouro – as sumarentas!- se tratassem.
É ingénua, fatídica, persistente, luminosa.
Pirilampo combalido no reflexo do teu plexo solar.
(Esta será para
sempre a melhor metáfora do teu retrato)
Voyeur, poética, patética menina.
Segura a crina do meu livro interior para que seja
manifesto,
Segura a dormência da minha cabeça milenar,
Segura o inseguro formato humano do meu poema.
Humaniza.
Humaniza-te.
Humaniza-me.
Tens medo?
Tens fome?
O que guardas?
Onde te escondes?
Por onde te escapas?
OU:
Tenho medo?
Tenho fome?
O que guardo?
Por onde me escondo?
Uma análise feita à superfície da matéria que somos,
revelaria, indubitavelmente, pontos extremos:
Polaridade de seres existencialistas.
Questões do profundo comuns.
Léxico dos silêncios compatível.
Dificuldade na gestão prática dos afetos.
Mundanidade imperfeita, dir-se-ia, inadaptada.
Currículo rico de experiências excêntricas.
Olhares vagarosos, deliciosos de deleite por películas de
filmes inexistentes.
Tu, mais severo, concreto, saltando baixinho,
(O teu esforço é intenso, mas concentrado)
Eu, espectro dilatado,
em saltos tolos e ambiciosos.
Leva-me a linha do desejo transgressora,
porque me encanta a essência da última camada do universo.
O poema, a poesia,
qualquer coisa de muito perfeito e singular é teu em mim,
Mas há erva ruidosa, feras e um combate,
espalhados no itinerário dos nossos desencontros.
Se voltares esta noite,
Nunca mais seremos a primeira noite no planeta rouge do teu
sofá
(essa órbita tão cheia de esperança que impulsionava os nossos
passos)
Mas lerei o poema, o teu poema,
para que o sono não seja mito
E possas, finalmente, ver (-me).