22.6.09

1

Tinhas deixado na mesa da sala um recado inútil.
rasguei-o para te dizer que do meu avesso,
avistas as palavras certas para compores em verso um sorriso
ou um barco retalhado em papéis dispersos
que sejam apenas ode de amantes
ou náufragos.

Quando voltares a passear nas montanhas do meu umbigo,
seguiremos com as mãos a rota das estrelas.
Ferirás a primeira dor,
para lhe causar medo,
mas de nada valerá

Serão tuas as caricias deste vento que me chega de empréstimo?
Serão tuas as formas que cavalgam a planicie horizontal?
Serão teus os sussurros dos passos invisiveis dos anjos?

Deixa-me ser dramática,
decorar-te o quarto com semblantes de sereias,
inventar-te um itinerário de amor.
Quero-te de braços inteiros semeados nos meus movimentos.
A tua sombra tem eco?
Porque te escuto se deixaste o quarto vazio pousado em cima da minha ternura?
E agora o que faço da minha ternura transformada tesoura?

Cortaste-me o coração à escovinha e ele nunca mais cresceu..
Mirrou e nem um pássaro lhe debica o rosado contorno.

Por isso deixei de te cantar

16.6.09

2

Dez dedos em cada mão
cortados na brusquidão da escrita.
As palavras não suavizam as veias,
arreliam-lhes o interior líquido.


Sei que faltei à tua última festa

mas desde que me mudei para a ilha,
dedico-me a dedilhar poemas vagarosamente.

Tenho plantas lentas no lugar das asas

que se evadem pela madrugada.

Já não bebem da mesma pele,

secaram a ausencia numa corda de linho,

estendida ao lado de três peças de roupa barata.

Ouvi dizer que no evento que organizaras
trajavas como um rei pobre,

ostentando
na cabeça uma coroa de galhos com sede.

O teu rei morrera a tentar um castelo...

A tua casa tinha pó e eu sorri,


porque era um resíduo antigo


- e o último-

que te ficara de mim.

Eu enviuvara de propósito,
para cercar com um círculo vermelho a tua varanda
e disparar-te o silêncio como uma laranja amarga-velha,

capaz de encher de acidez os móveis por onde o teu corpo se segura.


Pediste-me baixinho para voltar,

omitiste o local,

disseste que se eu fosse a número 1

a telepatia resolveria a angustia de te perder em mapas e geografias.




Encontrei-te do lado de fora do portão

onde um velho rachara tábuas para construir o seu próprio caixão.

Ao caixão acrescentou um par de águias

que voaram para lá da vida que respirava,

mas nada que não fosse o teu rosto concreto me comovia

e foi assim que em morreu a poesia.




Não é nada disto que tenho para te dizer,




na verdade só faltei à tua festa porque me doía a dança




de te ver repartido nos passos dela.



O meu coração guarda um espelho por onde te reflectes e metes



e a narrativa que te memoriza ainda sabe que mentes para


me evitares triste.












tem música de violino ao fundo,



como um Atlântico transmutado música.







Tenho-te guardado num frasco transparente. mas sempre me danas



e confundes.



Dei-te das trovoadas apenas a sua revelação de luz,



anulei das estações, as insónias e os presságios.



Movi a terra dos teus sapatos,



que te desdenhava em surdina,



mas nada trazia vida ao pedaço morto de amor que me dedicaras


na estção do sol.




vai para lá de muitos tempos, o dia em que quebraste a rua pela metade.
O caminho tem chaama-se NÓS e disse-me que um amor também se morre.





Não é assim que se separa o mundo, é por vontade.




Um meio mundo imposto é como uma mão sem tinta.

3 FERRUGEM

Sabes,
a ferrugem tem voz.

De nada vale duvidares da idade do coração.
Um coração também tem ferrugem.
Um coração também tem uma voz com ferrugem.