9.2.12

"En Heráldica. uno de los modos de designar el azul" (Wikipédia)

Quando ela inverteu o corpo,
para que o movimento lhe ocorresse a partir da cabeça
centrando-o no coração,
emocionei-me.

Deu-me para ficar estática perante o absoluto espectáculo,
chamava-se Celeste Bausch e praticava a dança de existir com ânsias.
Eu descobrira, lendo a profecia dos meus últimos sonhos,
que parte do encanto de prosseguir em respiros,
era o de descobrir gente bonita,
daquela que faz chorar lágrimas válidas (são essas que fazem os rios),
por isso, quando vejo a fotografia do corpo invertido de Celeste
- o corpo celeste-
ou leio os poemas da Susana Aida Poeta Poeta Poeta,
sinto que me elevo e posso saborear a eternidade.

E basta-me.

Um nome ridículo ( L´homme aux bras ballants. Yann Tiersen)


Antes da Partida:
Colocar os poemas nos olhos e navegar.
Distância a percorrer:
Sempre mais e sempre menos do que a primeiramente imaginada.
O mar vai mais a direito para quem tem lados esquerdos cantantes.

O homem tinha um nome ridículo, mas nada nele ecoava matérias daquela estranha fonética.
Como dizer?...Ele era um poeta e tinha a idade do mundo
(que é uma coisa variável e pouco precisa),
Suspirava através da pele, modo tosco de dizer que todo ele transpirava não havendo -no entanto- água visível nas suas redondezas,
somente um suor latente, uma ânsia de eternidade,
ou de ser nu como no primeiro dia em que veio ao mundo,
a única inteireza que ele tinha de tudo ignorar e assim conhecer.

"Retoco os meus poemas todos os dias, antes de adormecer."- disse-me.
(eu gosto tanto que me digam coisas)
Ficou-me a frase, a mim que só me ficam cheiros e suposições
(e intuições),
espécies de tábuas mentais de adivinhação que lêem o mundo
sob uma estranha "INFLUENZA" !
Claro que isso me serviu de explicação para o que se seguiu
e ninguém gostou de ver:
Disparatei e enchi o corpo de esquecimentos,
afinal abandonara-me
- E EU SIM!-  tinha um nome ridículo adquirido no último nascimento (relembro: Novembro de 2010),
aquele que mais arrasou das planícies.

A ventania trouxe-me febre alta,
o fogo todo aceso da extremidade do dedo maior ao cabelo mais ínfimo,
porque sofro das ferozes contra-indicações e apostaram-me num cavalo que não gosta de corridas,
prefere manhã e morrer na Serra a ser silêncio:

O poeta está lá,
invariavelmente todas as noites,
na mesma cadeira, no mesmo vinho,
no mesmo poema,
a limar-lhe os cantos, a acrescentar-lhe outros.
Se tudo correr bem, nunca mais o visito.
Não suporto amá-lo desta maneira,
sem padecer de mim,
da vida inteira.

8.2.12

La derniére fois (Cléo au Trapéze – Yann Tiersen). A kind of Tarantela. Este poema tinha que ser visual, desculpa o mau gosto.

Wings of Desire- Wim Wenders and Peter Handke (a ODE)

Penso:
Põe-me do avesso para poder voltar a ver-te dançar!
Sussurro:
Põe-me do avesso para poder voltar a ver-te dançar!
Repito:
Põe-me do avesso para poder voltar a ver-te dançar!
Grito:
Põe-me do avesso para poder voltar a ver-te dançar!

(a memória guarda-se (te) no lado contrário da cabeça,
no lado de dentro dos olhos
no lado de baixo do mundo)
Quero rever (TUDO)  ,
coisas como por exemplo:

O aquário (improvisada pista de dança) tinha a medida do teu sonho,
o que era uma forma de o nomear vasto.  amplíssimo.  imenso.

A circunstância:    
Era 1997,
fazia Dezembro em todo a banda,
eu envelhecera para ter o tamanho certo para te caber.

Pelas laterais surgiam sóis que eram muitos, ofuscavam!
Essa incandescência era ,no entanto,
mui tímida, silenciosa,
contradizendo os princípios do fácil esplendor.
Redundantes espectros, bem vistas as coisas,
porque a vida a sério nunca se vislumbra em ocasiões festivas.

Porquê?
Porque avistando-te à noite
agarrado a uma mulher de andar estranho e origem duvidosa,
a beber vinho barato que tinge os dentes cor de sangue

…e tu a sangrares coisas de tempos que não sabias materializar
…e eu imersa em desgosto de não ser corda vocal para sonorizar o mais fundo de ti…

Parecias vulgar,
tipo coisa de se dar gratuitamente e sentir alívio ao ver ir-se embora,
porque possuído de ruim /atormentada/ aparência.

Claro que o teu íntimo era outro!
- Esse era o motivo!-
esse foi sempre o motivo pelo qual voltava aos teus lençóis e chorava como um bebé
que sofre de toda a tua ausência - da que foi e da que virá –
TU ÉS A AUSENCIA!
Porque eu era a evidencia -a PROVA- da quimera
quando enredada em ti
e tudo, mesmo o teu predilecto excesso, podia ser objecto simples de agarrar e comer - sem saborear!
O sabor perdura longamente - avisavas-me! - enquanto vestias a cama de coisas que eu não queria ver.
Afinal também sabias ser mau, vocação que te defendia da dor.

Antes de consumir a tragédia,
partias os meus desejos em coisas práticas e feias.
Eu, transformada algoritmo
-sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, segundo a Wikipédia-
voltava aquela casa “que não tinha tecto, não tinha nada",
viva de irónica infância.

Deixo-me na montra do palacete onde celebraremos o casório do impossível,

Para que não te enganes ao encontrar-me, situa-se numa janela principal
mas talvez atravesses a rua novamente sem olhar.
Sou bibelô onde podes pousar a beata do cigarro
e deixar -como numa dança- o olhar fugir-se e pensar.