29.6.07

E no FIM disto tudo, um azul de prata.... Biografia de amor


"Song to the Siren" by This Mortal Coil . Did I dream you dreamed about me? Were you here when I was full sail? Now my foolish boat is leaning, broken love lost on your rocks. For you sang, "Touch me not, touch me not, come back tomorrow. "Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow. I'm as puzzled as a newborn child. I'm as riddled as the tide. Should I stand amid the breakers? Or shall I lie with death my bride?
Hear me sing: "Swim to me, swim to me, let me enfold you"Here I am. Here I am, waiting to hold you."

Nasci em 1979. Tenho quase 28 anos. Casei-me em 1952, um ano depois de teres partido irremediavelmente para o mundo dos mortos. Não foi por acaso que te escolhi para casar. Escrito na pele, o teu nome era uma companhia... uma campainha também, à qual poderia aceder à velocidade-segundo-desejo do pássaro que me despertaras.

Não te vi passar na rua e no entanto, eras o rapaz mais bonito que eu já vira passar! Nem bebemos vinho ao entardecer, nem enlouquecemos de amor numa cama de hotel.
Para ti eu não era uma rapariga. Nem um rapaz. E nem sequer precisava. Isso era belo.

Um estranho nada-tudo-tudo-nada, muita coisa para caber numa palavra ou num papel.

Por isso casamos. Anos antes de ter nascido, no ano seguinte à tua partida: António Maria Lisboa.

(Casaste muitas vezes depois do nosso enlace. Não importa. A verdade é que sempre foste fácil de amar. E belo. Meu nunca-sempre, António)

Evidentemente, minha cara...

Eu sempre pensei que sabia muitas coisas. E sei.

Mas são poucas.

Betty. Novela fragmentada de uma mulher que anseia tornar-se rosa...


Betty saíu à rua. O vestido amarelo tocava-lha o joelho ferido. Uma marca recente. Como teria acontecido?... Pensei na vida de Betty. Senti que a sua vida me escapava...


Eu, mirone dos seus artifícios, escondido sob a sua saia, alojado nos seus passos, esvoaçando no seu cabelo.


Betty escapara-me. Betty escapara-se . O joelho de Betty guardando-lhe o sangue, a sede. Eu, deitado, chorando lágrimas reais, enroscado nas suas ficticias pernas,deitadas ao meu lado...

REQUISIÇÃO . sob a responsabilidade das mais profundas necessidades de um coração apaixonado

Pede-se aos entendidos em matéria emocional,
ajuda na realização e satisfação das seguintes necessidades:

- Quero o barco, a quilha, o leme. Quero depois a gaivota que cruza o teu pensamento e quero rosas para o teu jardim! Mais de mil.

- Quero oito braços ou um polvo em segunda mão. Quero um sol em estado permanente. Photomatons de cada inspiração. Quero amor solúvel na pele, nas artérias, condensado depois em beleza.

- Quero sete lágrimas para chorar ausências, um papagaio de papel e vento propicio ao vôo.

Desde já agradeço a colaboração.

9.6.07

Carrossel....


E então ela entrava-me na vida, derrubando a porta de entrada, sem pensar nas cicatrizes, no coração todo amassado, numa espécie de caricatura horrenda e inevitável.


Não era o perfume dela que procurava, nem era a rua dela que eu queria cruzar, mas escapava-me primeiro o pé, depois o sol, muito mais tarde uma inútil lágrima (que me lembrava sempre o Inverno), nesses caminhos escuros, onde morri como quem vive.


Já não te espreito na fechadura da memória, já não te levo no carrossel. Deixei-me de apertos. Agora quero aviões e passaportes ilimitados... Parte-te em cacos.


1.6.07

...

Devia ter-lhe dito para quedar-se silenciosa, mas cantou-me.
E depois amei-lhe o delirio sonoro, as suas esfinges musicais...
E procurei a sua casa, a marca dos seus pés no chão, o seu reflexo...

porque era teu o ....

porque era teu o meu coração, perdi metade dos olhos ao mirar-te em demasia, entre longe e perto, nessa distância sem intermédio, nem intermediário, apenas carne-sangue e paixão incendiada. Nua.