9.9.17


Talvez a raiz resista!- dizias.

Era uma raiz morta por dentro,
bastava pressenti-la.

A tua insistência, porém, comovia-me.
e abominava-me.

A casa cheia de poeira,
terra,
plantas anónimas,
árvores inseguras. 
Do cosmos nem nadas,nem nesgas.
Nem sequer a sede.

A nossa casa.

Eu, persistente, amando-te.
Amando o amor.
Particularmente o que dele se desprendia da terra para ser pássaro.

Seguravas esses pequenos troncos interiores e inúteis.
Eu segurava a possibilidade de ascensão,
desfazendo tudo.

Uma luz pequenina abrigava-te do nosso naufrágio.
Seria o mar o lugar marcado. O nosso lugar de morrer.
A quimera incalculável do teu extraordinário saber
(tanta sabedoria -também ela- inútil)
procurando nos germes a germinação,
húmus dos nossos corpos primários,
bailando.

Amava-te muito,
mas os pés estavam frios num caixão sem tempo, nem espaço.


Fechaste a persiana e espalhaste os livros pelo chão da sala.
- Quero salvar-nos!-
O jogo era abrir páginas ao acaso e fazer delas profecia.

As páginas tão erradas, meu amor.
A raiz cada vez mais morta, o amor cada vez mais vivo.
Embora nunca mais
-nem por intervenção literária-
beijasse a candura da tua liberdade.

Abandonámos depressa esse jogo perverso.
A literatura, caso exemplar, assinara um veredicto
que recusavas aceitar.

Abre este livro. É a última vez!- pediste.
"As experiências fazem-se em casa." (Alexandre O'Neill)

Fecho o livro. Fechas a porta.
Há caroços em vez de estrelas.
Comeram a noite, meu amor.
Já não somos luar.