2.11.10

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Retoma a minha frase,
poderei dançá-la mais tarde,
num país inventado pela tua sede e pelo meu frágil equilibrio
Segura na ponta da corda que mais te agradar,
aguarda.
Observa
 como percorro os versos e as versões,
Cocteau insite em pronunciar-se perante um público satírico.
Desta vez, será diferente:
na plateia recortarei o meu público preferido,
normalmente gente muito morta ou muito gasta
...muito sábia,
dos que metem medo e afagam objectos para escutar o coração ido
numa cançao muito antiga e um corpo muito quente.

Onde se guarda o calor de quem se ama?
As "temperaturas extremas" de Herberto, cintilam nas moradas de silêncio de Al berto,
eu retomo a sentença:
os dez primeiros livros são eternos.

Recortei o bar,
faltavam-lha janelas, ressacava luz.
Eu, que era uma planta crescida nos seus delírios,
decidira cuidar de quem me mostrara os primeiros dez livros
-OS PERMANENTES.

O quão estranha a palavra permanência,
esse fluxo,
esse burburinho algures entre correntes de ar.
Queria dizer-te que vais ficando
mas perdi as plumas,
as vegetações bizarras da paisagem e diminui-me tamanho lupa.
Não creio que te agrade
a minha nova pequenez.
Reconstituo
a Teoria Geral dos Inversos,
mas no oposto que concluo,
manténs-te ileso, soberano desse reino aquoso e precioso,
onde não se define cor
para além da absoluta:
a que cega.

Devo-te o sorriso,
a ternura,
uma carta ridícula de Boas Festas,
alguma desventura natural de quem insitentemente se ama
depois de gastos os lenços e
os lençóis.
Mas somente o relógio dirá das horas exactas
em que abraçar-te era escrever a cada segundo a Obra-Prima Universal que salvaria o mundo da demência.

Regresso cansada,
mas sei finalmente como te agrido:
bilateralmente.

Não guardes os poemas nos tijolos,
faz uma casa e abriga-te da penúria.
Um dia,
ainda viveremos no mesmo quarteirão,
e amar será espreitar à janela,
ver-te 
e sorrir.


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