18.4.10

Concreto

Rasgámos a silhueta desta festa.
Podia ter sido a dança a construir o ritual,
mas preferimos a fractura exposta,
alastrando-se sob o piano dos teus ossos,
do teu queixo,
do penedo por onde sucumbiste para
(re)sentir vida.

Coberta por um véu silencioso,
bastava-me a comoção do volante na noite,
dirigindo-me para um lugar de mim,
cada vez mais fundo-
abismal!

Sabes que depois de passar as negras algas dessa cova,
um mar de coral invadiu-me a alma?
Nunca mergulhei num mar,
e, no entanto,
foi com tanta delicadeza e pormenor
que me revelaram este oceano,
que ouso ripostar essas oníricas evidencias.
Digo-te que semearei narrativas surreais:
uma princesa enamora-se pelo seu espelho,
mas é o espelho que a abandona,
aleijado por reflecti-la.

Dentro de mim,
tenho sempre sete seres em labuta,
derivam da espiral nomeada.
Porque páras em mim?
Eu ambiciono poetizar a minha mágoa,
não deves seguir as façanhas do meu juízo.

Sentemo-nos para este café abandonado,
preciso retocar a redoma palpável.
Não faças perguntas. Boris.
Acelera a máquina e vai.

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