27.6.11

/re/parar o tempo


Se abrir a porta, repare no estendal:
as peças são todas musicais e autênticas,
artigos raros, vividos em primeira mão
- cinematograficamente.

Não ligue à desorganização das artérias,
o sangue é um criatura apaixonada, embora caprichosa,
irrompe por covas fundas e feridas de difícil cicatrização
(tornamo-nos a matéria que pisamos)
Seria uma vantagem aceder consigo ao lado de lá desse muro-pessoa,
saber de perto o som da sua dor,
quantas vezes bebeu o vinho do seu desatino,
quantas insónias ocuparam os ponteiros dos relógios que alberga,
quantas mãos amou pelo modo particular de serem ternas,
quantos gritos deu em vão,
quantos risos desenhou no seu lado solar.

(mas)

É minguante a corda e ténue o sonho .
A memória está preenchida pelas visões
e viver perdeu impacto.

Terei que explicar o enredo para que não se enleie na confusão:
fui eu que teci esse estendal, tentando o anonimato.
Sequei a folha do caderno onde era oleira das minhas visões:
nesse tempo estava muito viva e tudo me corria para as mãos,inspirando-me!

Hoje a chuva não chove,
nem há sementes de nuvens.

A roupa seca em cima dos ombros
e cai para dentro,
exausta.

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