20.9.09

Divino -parte 3

Hoje encontrei-te o rosto:
analiso, verifico,
sou pragmática nas metafísicas de ti,
agrada-me segurar os frágeis cabelos de ar onde te sustentas, magnífico,
sempre diferente do poema-poéme.

Enquanto arquitectas possibilidades,
invado o teu reportório,
componho-te poemas,
foi de propósito que quebrei o copo,
queria engravidar qualquer coisa que não fosse a minha utopia,
tenho sete palmos de imaginação soterrados nas crateras longas dos olhos,
se parares mais tempo,
podemos converter esta tonelada num desafio de Pictionnary.

Páro-me de propósito,
o pensamento atarracado em minúsculas garrafas,
tenho um vinho e uma propaganda:
não sei vender nada que não me prove,
o vinho sabe-me de cor o palato,
é ele que me visita,
que não te engane:
o copo pega-me na mão,
o líquido derrama-se,
abro a garganta na página 33 onde figuram os rostos e os amantes,
depois durmo e sonho.

Eu devia dizer-te que Díonisio leu demasiada literatura,
amou mulheres como homens,
reverteu, converteu-se, humilhou-se, glorificou-se.
No fim, não escreveu livros,
compos vinhos.
Deixou-os de herança, especialmente para ti,
é natural que te tentem.

Lambo um livro, fujo de presenças vivas,
carrego-te, fugudio não veleiro,
não tens mar dentro e isso é uma coisa rara
nos homens atlânticos.
Duras escreveu-te as rotas,
geometricamente falhaste,
bastou compreenderes o somatóro das partes.
Quanta matemática existe num poema?
E numa mulher?
No tubo de ensaio onde te vertes em velocidades ambivalentes,
verifico-te o bolor das asas,
digo-te, quanto mais velho melhor,
desde que não definhes em filosofias autodissecantes.
Escreves-me porque me avanças,
ditos os nomes todos,
estas palavras continuam a ser tuas.

Onde guardaste o coração?

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