23.8.13

POSSESSED II_para não bailar


Falar-te deste deserto que foi capotar a alma,
seria levar-te a uma ruína antiga onde arde em chamas um anjo sideral.
O momento - já que tão insistentemente mo pedes-
é este e chama-se corpo com dor
(ou uma dor com um corpo dentro)

Vislumbrando a cratera e não a lua,
talvez chorássemos os dois, extremamente meninos,
inseguros de nós próprios no futuro -este- que a vida preparou com um requinte perverso.
A poesia não seria feliz, embora desarmante de tamanha sinceridade.
Só por isso -apenas isso- valeria amar esse poema com unhas e dentes,
sobreviventes sôfregos do desejo de utopia.

perdi o incenso, 
a casa cheira a ranço velho.
sei que te enoja a imagem desta feiura.
sabes como odeio asas sujas, fracas para voar.

Tenho o fígado enfiado em pó de estrelas moribundas,
daí a fraca convalescença,
diz-me o pedalar de um velho fula que apesar dos olhos cegos de doença,
olha-me profundamente.
O cão -também doente-  sangra,
bastaria um comprimido pequeno, barato,
para curar todos os cães do mundo.
Bastaria um cão curado para valer a pena padecer tão violentamente.

Porém nada,
apenas uma cintura estreita a alargar o oceano,
uma distância que me retira do acto de viver em transe,
um pão vazio e esta ala de ausências.


















Nenhum comentário:

Postar um comentário