15.7.13


Se porventura amávamos o mesmo sabor a rum,
o rum -que era o mesmo, importa sublinhar- sabia diferente a cada um.
Por isso, o amor é uma semente rebelde (disseram-me ser também uma oportunidade),
embora nauseabunda, fascinante, viral,
de inconstante germinação.

Quando te segurei o sorriso (desde sempre pesado como uma pedra frustrada)
jurara transportar-te triunfalmente para o lado solar.
Para atravessares o caminho isento de perigos,
consertei-o com matérias que eram intensamente eu:
os meus segredos, as minhas ansiedades, os meus feitos heróicos depositados na palma da tua mão.

Apetecia-me devorar-te os lábios como quem finalmente adquire um corpo inteiro!
Dirigida pelo furor avançava,
comprei uma praia no Alentejo,
revelei-te do poeta, da utopia, do vinho forte,
mas essa fome passou e o corpo que era júbilo emagreceu de vontades.

Da lista de peripécias que foi desconstruir-nos o fascínio,
algumas valerão o lembrete:
um gato dividido (nossa herança matrimonial),
um apartamento suicida,
um bouquet de flores murchas num papel sem carimbo, nem promessa.

Por isso, a alma fez rock e quebrou a doçura da primeira penugem
para se dedicar a matérias mais ásperas, violentas.
Imperou a distância do óbvio que o fascínio não deixara ver:
tu levitas em ternuras estranhas,
eu sou um espectro a escrever uma carta sem memória.

"Walk in silence
Don't turn away, in silence
Your confusion
My illusion
Worn like a mask of self-hate
Confronts and then dies."
Joy Division





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