11.7.10

PELE (registo em contínuo, atravessando as águas)

São novamente ossos estendidos no paredão:
não são de gente,
nem dos sonhos invocados,
ou das tragédias geradas pelas suas cúmplices catástrofes.

O manual de capa preta
-também ele estendido no areal-
guarda os teus poemas,
tu sabes que és um ilusionista inato,
por isso quando te prendes,
manténs soltas as outras pontas.

As arquitecturas de cada alma são obras-primas! -
soletras, enquanto esculpes o teu último rosto,
pareces mais novo, mais alto, mais outro.
Vou fotografar o teu medo primeiro,
para que saibas da memória,
essa ausencia em sustenido que afaga o abismo.

Respiro muitas vezes e, se me canso prossigo,
-é habitual! -
porém, nem sempre faço o esforço
de reparar a intensidade dos ventos:
inalo pradarias e emociono-me!
Faltam-me mais dedos do que livrarias,
a minha persistência consiste em manter cheio o nível das águas de Herberto,
a minha planta preferida..

Se eu tivesse o poeta de ocasião
que te enrosca o abandono em trágica beleza,
felicitaria este destino que te desenha a boca
e te desfaz o sorriso em pranto.
Mas o poeta, mesmo que me habite dentro,
é-me desconhecido,
toma-me de voodoos as pernas
e dá-se ao azar de se tornar metáfora:
o livro dos poemas guarda o último anjo,
esse ser que talvez não nasça.

Um pigmento de lua há-de enfeitar o débil azul,
veremos que depois desta exaustiva caminhada,
a luz da manhã será primórdio de um capítulo ilustrado,
onde seremos livres...

(Arranha-me em eterno a labuta organizada em semelhança.
Ainda são os pássaros que me comovem,
principalmente aqueles que se fazem grandes nas mãos.
Chagall é uma coincidência divina,
nas intermitências que transportam o precioso.
Revelo a fotografia,
hei-de fazer um altar a tudo aquilo que sem ser meu, me comove e transfigura.
Sou um ser espalhado em milhões de seres.)

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