26.8.09

Carta da cidade queimada

Eu vinha dizer-te que houve um último incêndio. As pessoas em delirio entraram pelas bocas dentro. Eram pessoas caídas por todo o lado... uma devastação. Eu passara tantos anos a amar-lhes o rosto, não pude crer que morriam por ali, dentro de mim, dentro da cidade que também sou.

Recuperar a terra demorou tempos que não te sei contar, mas fez-se, porque o tempo tem tudo o que é relativo dentro: estica, estreita-se, dilata, esfuma-se. O tempo é uma doença que se cura com..... tempo.

Neste incendio também senti feridas as aves, as estrelas, as figuras dos museus. Ficou tudo devastado nesta última estação.

Enfim, não vim para causar confusão, vou sair de mansinho para que não me escutes. Conto-te o último relato desta embarcação quando já não avistar terra.

Silêncio que se vai cantar o nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário