15.11.11

B ( "e agora para algo completamente novo")


Vim dizer-te que nesse dia contei os dedos das mãos para confirmar a tua inesperada chegada ,
como sol que insiste brilhar quando o dia acaba...
Seria um dia à medida e capricho Boris Vian e a sua Espuma dos Dias,
um dia em que a vida reinou por completo na utopia e se fez pessoa, sorriso e caminhou.

Vi-te passar em slowmotion, o mundo desenvolvia finalmente as suas verdadeiras habilidades,
tornar próximo o que a cabeça distancia em pensamentos e criações.
As redes afinal estavam todas por concretizar: infinitas e possivéis, como o sonho.
Eu que decretara o fim do "Capitão Romance", eu pirata e gato e sozinha,
a escrever-te desde então os instantes da vida,
como se de repente fosses tu a acender-me a memória.
Como te chamas?
Como chegaste?
Onde te dói?

Escrevo-te para te lembrar que este segredo é longínquo  e ao ver-te naquela  fotografia de passe, faz hoje um mês ou mil anos,o rosto era o mesmo que antes vira impresso no teu olhar e me prendera de beleza e angústia...um rosto muito antigo como o amor.
E vi-te pequeno e guardei a emoção para este poema,
porque socialmente seria incómodo lembrar-te que nunca te vira e no entanto,
parecia que nunca te tinha esquecido.

Vou tomar um café forte, preciso adormecer o intuitivo rasgo,
que me leva a ser nua de metáforas e dizer-te tudo.

Quando amanhã estiveres lá,
o homem da bata branca há-de sorrir e era bom que acreditasses inteiramente nos seus talentos,
nunca houve motivos para temer e quero ver-te velho a falar da vida e do futuro.
Sabes, eu acho que há sempre futuro...

Amanhã (também) o escorpião António faria 71 anos,
mas quando voou estava mais jovem do que eu,
era um menino a correr com um balão voador,
a percorrer a eternidade:
"When our wings are cut, can we still fly?"
Eu sei que tu mais do que eu dirás que sim,
és um leitor dos silêncios, mesmo quando a vida arrepia com os seus contornos de mau gosto
e só apetece cosmos que leve em buracos negros tudo o que sente ou mexe.

Não somos só pessoas felizes,
somos pessoas inteiras.
Eu estou inteira aí,
aqui o corpo mexe, tecla, está veloz.
Precisa acalentar o teu silêncio,
precisa recortar nuvens para a tua janela.

Passeio pelo laranja da tua casa e gostava de ser alma e vôo,
cair-te num sonho e ter as ilhas do sul e o sol.
mas sabes que nem sempre se realizam os planos:
escrever é uma forma de mantê-los vivos como a esperança.

Agora vou só abraçar-te,
se puder fico aí esta noite

...truz...truz...posso entrar?

Um comentário:

  1. lindíssimo.
    na casa imaginada cabe sempre
    e ainda o coração .

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