22.12.09

suspensó(RIO)

Um suspensório atara-me ao céu.
Desfeito o nó, espalharam-se pelas terras húmidas os vestígios alados.
Na tentativa de recuperar a forma – essa inquieta permanência – os joelhos revelaram a sua transparência.
Foi nesse lugar que me quedei, escutando-o:
- O contorno;
- A ruga;
- A ferida.
Qualquer coisa de sideral explodia-se em fumo:
A memória trazia em braços um pirata, um barco e uma vela,
Coisas, por acaso, simples,
Contrariando o espectro dos factores,
Destes, cito os nomeáveis:
Uma cortina de mulher, sete ossos de um penedo, um baloiço estagnado,
uma criança de bigode ferrugento, mãos acres tocando um violino (um som estridente rasgando penínsulas).

Voltar a um lugar é sempre desaparecer.
Um catálogo pode manchar para sempre uma memória,
Cingi-la a nada.
A concepção é moldar barro e esperar maturação.

Esta plasticina que me caiu por engano in personna multiplus difusus,
Contesta a permanência e rói com o esqueleto um plano mutável,
Convoca para a cerimónia um apego de longe.
O coração está cheio, transborda,
O líquido bebe-se mas não evita o granulado,
Recua do palato, condensa-se nuvem e chove.

A inevitabilidade de um caco é bela:
Repara na poética harmónica. Emociona-te.
No entanto, sem o velho, é vazio o som.
O velho chora e eu choro com ele,
Enchemos uma garrafa e desenhamos ondas,
Este mar é um improviso para a nossa dor.

Nesta pauta deixo tudo quanto herdamos.
É um poema mas devia ser gente e andar pela rua,
Ter pernas falantes e estímulos para a luz.

É inútil esta perícia de pensar,
Se esquecemos a música dentro da caixa.
Eu quero lembrar-me para sempre deste quedar de folhas,
Envelhecer primaveralmente, outonizando a neve.

A errância é lúcida.
Enal-TECE.

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